terça-feira, 4 de maio de 2010

Guerreiras do esquecimento

“ Guerreira do esquecimento”

Visitámos o lar da Santa Casa da Misericórdia em Vila Real de Santo António e falámos com a Dona Fátima Agostinho, uma funcionária que lida com diversos utentes da instituição e contou-nos histórias das pessoas com doenças neurodegenerativas que já passaram pelos 18 anos de experiência. De avental e boa disposição luta contra cérebros degradados tratando as necessidades básicas que são difíceis de alcançar com autonomia.

Começa por realçar que tudo o que aprendeu para lidar com esses pacientes, foi devido à experiência de cada caso, não se especializando no assunto.

Entre perguntas sobre o dia-a-dia de pessoas com doenças neurodegenerativas, esboça “ isso é realmente difícil, cada pessoa tem a sua maneira”, e distingue duas pacientes da doença de Alzheimer, e que uma senhora é muito violenta e difícil, e outra senhora que é uma “doçura”.

A senhora violenta sofre de Alzheimer e está com complicações devido à doença. “ É o que chamamos de doença galopante, começam com aqueles problemas e a partir daí…”. Reflecte as dificuldades sentidas ao cuidar, pois vão perdendo as faculdades e a violência da senhora é um caso serio, “às vezes temos que ser quatro e mesmo assim é difícil”.

Debruçada sobre o efeito da doença nas relações sociais, conta que o marido da senhora violenta, também se encontra nesta instituição “chama ao marido, pai e chama pai ao filho, mas reconhece-o (ao filho). (…) A cabeça dela está em branco, alguns sons, alguma entoação, qualquer coisa, mas fora disso não tem noção de nada, não sabe que está aqui. Começou a galopante já perdeu o andar, é extremamente difícil pô-la a andar, com o comer tem sido mais difícil, e daqui a amanhã acaba mesmo. O cérebro deixa de funcionar e pronto acaba aqui. Já não há nada a fazer”

Quanto à senhora que é uma doçura, falou-nos de como tratam a higiene… “Dizemos-lhe Dona Lídia limpe a cara e ela não sabe onde está a cara, a gente obriga-a para não perder totalmente as faculdades” visto não se tratar ainda de uma doença galopante…

As famílias destes doentes são afectadas, pois têm ocupações que os impedem de poder tratá-los com a atenção que eles precisam.

“Chamam-lhes (ao Parkinson e ao Alzheimer) as doenças da família, por isso acaba com a pessoa, e a família também vai toda a baixo, por mexe muito também com os familiares”

Confrontada com a realidade do lidar com estes pacientes, mais horas e mais tempo do que qualquer profissional de saúde, responde “ nem toda a gente entende assim”, também a falta de voluntários para ajudar, e a conversas que se ouvem das pessoas que vêem do lado de fora as situações, indignam a Dona Fátima Agostinho.

O trauma das pessoas saírem das suas casas, nas suas casas tinham companhia, eram as suas coisas,” a nossa casa é a nossa casa” pensam que as pessoas abandonaram-no, por que é isso que quem fica lá pensa, e aí abandonam-se a si próprios.

1 comentário:

Flor-de-lis disse...

O vosso trabalho é lindo! Muitos parabens mesmo, é realmente um excelente tema para abordar e voces exploram-no muito bem.
Abraçose continuem o excelente tarbalho.